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O argumento[]

O argumento não é formalmente apresentado como normalmente se faz (premissas e conclusões logicamente derivadas delas), mas ao invés disso, ele é exposto em linguagem normal e, ao final do capítulo 4 de seu livro, o autor o resume em seis pontos. Estes seis pontos são normalmente considerados como a sua esquematização formal.

Todavia, nesta esquematização, Dawkins não reflete bem tudo o que expôs no capítulo, pois neste ele menciona tanto o problema direto da complexidade do Designer quanto de sua causa. Por isso, a tática do Boeing 747, quando é considerada em análise, é normalmente dividida em duas linhas de pensamento, e assim cada qual é normalmente criticada separadamente.[1] A primeira linha diz respeito aos pontos enunciados por Dawkins, cujo raciocínio é a não-inferência da existência de um Desenhista do Universo sob o problema de virmos a precisar saber "quem desenhou o Desenhista". A segunda parte diz respeito à alegação de que a Causa do Universo deveria ser pelo menos tão complexa quanto este.[1] Além destas duas formas mais tradicionais, ainda há uma terceira maneira de expor-se o argumento, consistindo, de certa forma, na união das duas, onde a questão da origem do Desenhista é justamente criticada em função da complexidade.[2]

Primeira parte: origem[]

A apresentação de Dawkins segundo a Wikipedia inglesa é a seguinte:[3][2][4]

  1. Um dos grandes desafios para o intelecto humano, ao longo dos séculos, vem sendo explicar de onde vem a aparência complexa e improvável de design no universo.
  2. A tentação natural é atribuir a aparência de design a um design verdadeiro. No caso de um artefato de fabricação humana, como um relógio, o projetista era realmente um engenheiro inteligente. É tentador aplicar a mesma lógica a um olho ou a uma asa, a uma aranha ou a uma pessoa.
  3. A tentação é falsa, porque a hipótese de que haja um projetista suscita imediatamente o problema maior de quem projetou o projetista. O problema que tínhamos em nossas mãos quando começamos era o da improbabilidade estatística. Obviamente não é solução postular algo ainda mais improvável. Precisamos de um "guindaste", não de um "guincho celeste", pois apenas um guindaste é capaz de avançar de forma gradativa e plausível da simplicidade para a complexidade, que de outra maneira seria improvável.
  4. O guindaste mais engenhoso e poderoso descoberto até agora é a evolução darwiniana, pela seleção natural. Darwin e seus sucessores mostraram como criaturas vivas, com sua improbabilidade estatística espetacular e enorme aparência de ter sido projetados, evoluiram através de degraus gradativos, a partir de um início simples. Podemos dizer hoje com segurança que a ilusão do design nas criaturas vivas não passa disso - uma ilusão.
  5. Não temos ainda um guindaste equivalente para a física. Alguma teoria da do tipo do multiverso pode, em princípio, fazer pela física o mesmo trabalho explanatório que o darwinismo fez pela biologia. Este tipo de explicação é, na superfície, menos satisfatória que a versão biológica do darwinismo, porque faz exigências maiores à sorte. Mas o princípio antrópico nos dá o direito de postular uma dose de sorte bem maior que aquela com a qual nossa intuição humana limitada consegue se sentir confortável.
  6. Não devemos perder a esperança de que surja um guindaste melhor na física, algo tão poderoso quanto o darwinismo é para a biologia. Mas, mesmo na ausência de um guindaste altamente satisfatório equivalente ao biológico, os guindastes relativamente fracos que temos hoje são, com a ajuda do princípio antrópico, obviamente melhores que a hipótese contraproducente de um guincho celeste, o projetista inteligente.[nota 1]

De uma forma mais resumida, o argumento pode ser disposto da seguinte maneira (esta versão foi sugerida pelo filósofo e teólogo William Lane Craig):[5]

  1. Um dos maiores desafios ao intelecto humano tem sido explicar como a aparência complexa e improvável de design no universo surgiu [/surge].
  2. A tentação natural é atribuir a aparência de design ao próprio design.
  3. A tentação é falsa porque a hipótese de designer imediatamente levanta o problema maior de quem desenhou o desenhista.
  4. A explicação mais ingênua e poderosa é a evolução darwiniana por seleção natural.
  5. Nós não temos uma explicação equivalente para a física.
  6. Nós não devemos perder a esperança de uma melhor explicação surgir para a física, algo tão poderoso como o Darwinismo é para a biologia.[nota 2]
Logo, Deus quase certamente não existe.

Formal[]

Uma apresentação formal do argumento, deduzida do que ele apresenta, é como se segue:

Argumento 1
Premissa 1: Todas as entidades existentes que mostram evidência de design requerem um designer superior a ele próprio.
Premissa 2: Deus mostra evidência de design em si mesmo.
Conclusão 1: Logo Deus requer um designer (um outro Deus) superior a si mesmo.
Argumento 2
Premissa 3: Regressões infinitas não são possíveis.
Premissa 4: Conclusão 1 implica numa regressão infinita (um número infinito de deuses).
Conclusão 2: Logo, a conclusão 1 não é possível e, assim, nenhum deus pode existir.[6][7]

Segundo Dawkins, a premissa 1 deste formato do argumento seria aquilo que os teístas tentam afirmar quando fazem alusão ao argumento teleológico e que ele afirma não acreditar ser verdade, mas por vias do argumento assume que assim seja.

Segunda parte: complexidade[]

A segunda parte é a que diz respeito à complexidade da Causa do Universo. Neste ponto, Dawkins tenta inferir que a causa de um universo são complexo quanto o nosso precisa ser no mínimo tão complexo quanto o próprio universo. Ele, todavia, parece não ter apresentado nenhuma razão filosófica que justificasse isso; apenas inferiu que deveria ser assim. Uma das maneiras onde isso é "subliminarmente" alegado jaz no trecho seguinte:

[...] o argumento pode invocar o lema banal dos economistas: não existe almoço grátis — e o darwinis-mo é acusado de tentar tirar alguma coisa do nada. Na realidade, como mostrarei neste capítulo, a seleção natural darwiniana é a única solução conhecida para o enigma insolúvel sobre a origem da informação. É a Hipótese de que Deus Existe que tenta tirar alguma coisa do nada. Deus tenta comer seu almoço grátis e também ser o almoço. Por mais estatisticamente improvável que for a entidade que se queira explicar através da invocação de um designer, o próprio designer tem de ser no mínimo tão improvável quanto ela. Deus é o Boeing 747 Definitivo.[8]

Uma outra forma de compreender o argumento de Dawkins é pela inferência de complexidade que "necessariamente" deve haver com base na onisciência de um indivíduo. Segundo Dawkins, um ser que possui muito conhecimento "necessariamente" tem que ser complexo:

Um Deus capaz de monitorar e controlar permanentemente o status individual de cada partícula do universo não pode ser simples. Só sua existência já exigirá uma explicação do tamanho de um mamute.[8]

Outras formulações[]

Além destas duas visões principais sobre o argumento, outras formulações, aparentemente tentando corrigir ou melhorar o esquema do próprio Dawkins também foram criadas, além das simples apresentações.

O site de contra-apologética ateísta Iron Chariots Wiki, muito embora apresente a mesma versão da Wikipédia quando enunciando o seu artigo, também apresenta uma terceira formulação para o argumento consistindo, aparentemente, da união das duas partes do Ultimate Boeing 747 gambit. Nesta versão, semelhante à esquematização formal proposta acima, menciona-se o argumento do design como fundamento para o Ultimate:[2][nota 3]

O argumento do design afirma:

  1. Tudo o que é complexo requer um projetista.
  2. O universo é complexo.
  3. O universo é projetado.

O Ultimate 747 Gambit afirma:

  1. Tudo o que é complexo requere um projetista (premissa 1).
  2. Deus é complexo.
  3. Logo, Deus é projetado.

Richard Pimentel expressou o argumento da seguinte forma:

Dawkins believes that if something has evidence of design then it necessitates a designer that is superior to itself. Therefore, if God has evidence of design then God must require a designer superior to himself. Herein lies the improbability of a designer for the universe. Dawkins considers God inferior to evolution by natural selection as explanations for the complexity of life.[9]

Ainda uma outra versão do argumento foi formulada por um certo "Tom" no site de Craig Reasonable Faith:[10]

  1. Se Deus existe, então a tentação natural seria atribuir a aparência de design a Deus.
  2. A tentação é falsa porque isso imediatamente levanta o problema maior de quem desenhou o desenhista.
  3. A explicação mais ingênua e poderosa para o design é a evolução darwiniana por seleção natural.
  4. No presente nós não temos uma explicação equivalente à evolução darwiniana por seleção natural para a física.
  5. Se nós tivéssemos, então Deus quase certamente não existiria.

Esta versão, todavia, é bastante imprecisa, uma vez que a "correção" proposta por Tom é bastante diferente daquilo que o próprio Dawkins afirmou que propõe, escrito nos seis pontos originais.[10]

Martin Bittencourt está trabalhando na sua interpretação do argumento. Segundo ele, trata-se de uma versão sarcástica, pois visa a considerar todos os maiores pontos levantados por Dawkins no capítulo 4 de tal forma a se tornar um esquema ainda melhor do que o proposto pelo próprio Dawkins. Até agora, dois esquemas vêm sendo estudados, e são os descritos abaixo:

1
  1. Toda complexidade (i.e. tudo o que é complexo) requer uma explicação.
  2. A natureza e o universo são complexos.
  3. Logo, complexidade presente na natureza e no universo requer uma explicação.
  4. Há três possíveis hipóteses para a existência de complexidade: processos físicos (ex.: seleção natural), chance ou design.
  5. Na natureza, não é devido a design.
    1. É devido a evolução por seleção natural, que produz aparência de design.
  6. No universo, não faz sentido atribuir a design.
    1. Design é muitíssimo improvável.
      1. Deus é complexo.
        1. Se Deus é a causa da complexidade do universo, então Ele é tão ou mais complexo que o próprio universo.
        2. Se Deus existe e é onisciente, então Ele é muitíssimo complexo.
      2. A complexidade de Deus requer uma explicação (1).
      3. Esta explicação é muitíssimo problemática.
        1. Deus, que é complexo, requer uma explicação - "quem projetou o projetista?".
        2. A explicação de Deus (o projetista de Deus) também requer uma explicação, ad infinitum.
      4. Logo, Deus é muitíssimo improvável.
    2. O princípio antrópico nos dá maior oportunidade de apostar na sorte.
    3. Logo, não devemos perder a esperança de um crane para o cosmos ao invés de aceitarmos um skyhook como design.
  7. Assim, Deus quase certamente não existe.
2
  1. Há muitas coisas na natureza que possuem aparência de design.
  2. Estas aparências de design requerem uma explicação.
  3. A tentação é inferir design como a explicação para estas aparências de design.
  4. A tentação é falsa.
    1. Por causa de Deus.
      1. Se Deus existe, então Ele é a causa da complexidade.
      2. Deus não é gradual como a evolução.
        1. Deus toma toda a complexidade para si.
      3. Logo, Deus é complexo.
      4. Logo, Deus é muitíssimo improvável.
        1. Se Deus é complexo, Deus precisa de uma explicação.
        2. Esta, por sua vez, também iria precisar de outra explicação, ad infinitum.
    2. Por causa da evolução.
      1. Há aparências de design, que requerem uma explicação ((1)-(2)).
      2. Essa explicação pode ser por chance, por design ou por seleção natural.
      3. Não é por chance (fato largamente aceito).
      4. Sabemos que a evolução ocorreu.
        1. A evolução é capaz de explicar o surgimento da vida.
        2. Temos evidências de que ela ocorreu.
        3. Nenhuma das críticas atuais contra a evolução são verdadeiras ou capazes de derrubar a teoria (ex.: falsa "complexidade irredutível" de Behe).
        4. Logo, a evolução ocorreu - ou pelo menos devemos assim admitir.
      5. A evolução produz aparência de design.
      6. Logo, as aparências de design não são devidas a um Designer, mas à evolução, que produz tais aparências naturalmente.

Notas

  1. A versão em inglês da Wikipédia contemo seguinte texto, em inglês:
    1. One of the greatest challenges to the human intellect, over the centuries, has been to explain how the complex, improbable appearance of design in the universe arises.
    2. The natural temptation is to attribute the appearance of design to actual design itself. In the case of a man-made arte fact such as a watch, the designer really was an intelligent engineer. It is tempting to apply the same logic to an eye or a wing, a spider or a person.
    3. The temptation is a false one, because the designer hypothesis immediately raises the larger problem of who designed the designer. The whole problem we started out with was the problem of explaining statistical improbability. It is obviously no solution to postulate something even more improbable. We need a "crane" not a "skyhook," for only a crane can do the business of working up gradually and plausibly from simplicity to otherwise improbable complexity.
    4. The most ingenious and powerful crane so far discovered is Darwinian evolution by natural selection. Darwin and his successors have shown how living creatures, with their spectacular statistical improbability and appearance of design, have evolved by slow, gradual degrees from simple beginnings. We can now safely say that the illusion of design in living creatures is just that – an illusion.
    5. We don't yet have an equivalent crane for physics. Some kind of multiverse theory could in principle do for physics the same explanatory work as Darwinism does for biology. This kind of explanation is superficially less satisfying than the biological version of Darwinism, because it makes heavier demands on luck. But the anthropic principle entitles us to postulate far more luck than our limited human intuition is comfortable with.
    6. We should not give up hope of a better crane arising in physics, something as powerful as Darwinism is for biology. But even in the absence of a strongly satisfying crane to match the biological one, the relatively weak cranes we have at present are, when abetted by the anthropic principle, self-evidently better than the self-defeating skyhook hypothesis of an intelligent designer.
  2. Tradução de:
    1. One of the greatest challenges to the human intellect has been to explain how the complex, improbable appearance of design in the universe arises.
    2. The natural temptation is to attribute the appearance of design to actual design itself.
    3. The temptation is a false one because the designer hypothesis immediately raises the larger problem of who designed the designer.
    4. The most ingenious and powerful explanation is Darwinian evolution by natural selection.
    5. We don't have an equivalent explanation for physics.
    6. We should not give up the hope of a better explanation arising in physics, something as powerful as Darwinism is for biology.
  3. Neste caso, utilizar-se-á o termo "projetista" à "desenhista" porque fica melhor.

Referências

  1. 1.0 1.1 DeSalvo, C.. The God Delusion's Delusion (em inglês).
  2. 2.0 2.1 2.2 Cite error: Invalid <ref> tag; no text was provided for refs named ICW
  3. Retirado de Ultimate Boeing 747 gambit na Wikipédia anglófona. Página acessada em 6 de abril de 2010 (link).
  4. Template:Cite book
  5. Craig, William Lane. What do you think of Richard Dawkins' argument for atheism in The God Delusion? (em inglês). Reasonable Faith (website).
  6. Deem, Rich. Debunking Dawkins: The God Delusion - Chapter 4: Why There Almost Certainly Is No God (em inglês). Evidence for God from Science. Página visitada em 6 de abril de 2010. - Nota: página ainda em construção.
  7. McCullagh, Paul (16 de novembro de 2007). The Ultimate Boeing 747 Gambit that Backfires (em inglês). ALGORITHMS, ETC. (Blog). Página visitada em 6 de abril de 2010.
  8. 8.0 8.1 lucianohenrique (31 de dezembro de 2009). Prelúdio: O Boeing 171 Definitivo OU British Pie (em português). Deus, Um Delírio – Capítulo 4. Blog Neo-Ateísmo, Um Delírio. Página visitada em 20 de abril de 2010.
  9. Richard Pimentel. The Assault on Religion (part II) (em inglês). Philosphy News. Página visitada em 20 de abril de 2010. "Dawkins believes that if something has evidence of design then it necessitates a designer that is superior to itself. Therefore, if God has evidence of design then God must require a designer superior to himself. Herein lies the improbability of a designer for the universe. Dawkins considers God inferior to evolution by natural selection as explanations for the complexity of life."
  10. 10.0 10.1 Craig, William Lane. Dawkins' "Central Argument" Once More (em inglês). ReasonableFaith.org. Página visitada em 3 de maio de 2010.
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