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O argumento da ressurreição de Jesus é tanto uma versão do argumento dos milagres quanto um cristológico que visa demonstrar a historicidade do evento da ressurreição de Jesus Cristo de Nazaré como é pregado pela teologia cristã ortodoxa. Embora tradicionalmente apresentado em defesa do Cristianismo especificamente, este argumento também é eventualmente utilizado em suporte à ocorrência de milagres bem como em favor da existência de Deus.[1]

História[]

Historicamente defesas argumentativas da ressurreição remotam aos tempos do início do Cristianismo quando o evento, apresentado como fato histórico, era usado como justificativa para a conversão de novos discípulos. Nesse contexto, a recordação mais antiga que se tem de sua utilização jaz em Atos dos Apóstolos, que conta que o apóstolo Pedro teria utilizado-o no primeiro discurso cristão pós-pestecostes (Atos dos Apóstolos 2:23-24). Desde então, apelo à ressurreição têm feito parte da apologética positiva em favor da fé cristã uma vez que, como o apóstolo Paulo afirmou em sua primeira carta aos coríntios, a veracidade deste evento é necessária para a validade da própria fé:[2]

E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.
Paulo de Tarso, 1 Coríntios 15:14

A defesa da historicidade da ressurreição passou por momentos difíceis durante o período em que o movimento do Iluminismo entrou em sua fase cética, quando a própria existência de Jesus foi questionada. Enquanto que a historicidade e a credibilidade das narrativas dos evangelhos estava sendo colocada em xeque pelos eruditos, o cético escocês David Hume colocava descrédito sobre a possibilidade de se averiguar a ocorrência de milagres por meios históricos, e a separação entre a ciência e a religião estava se espalhando com o advento do naturalismo metodológico.

No séc. XX, todavia, este cenário veio a mudar. As críticas de Hume vieram a serem majoritariamente creditadas como falaciosas, as idéias contra a historicidade de Jesus e a aceitabilidade de muitas explicações naturalistas para os eventos descritos nos Evangelhos vieram a ser descreditadas por historiadores como Strauss, e a credibilidade histórica dos evangelhos veio a ser restaurada. Com os resultados das pesquisas advindas nas "buscas pelo Jesus Histórico", tem-se atualmente uma perspectiva voltada positivamente em direção à credibilidade histórica das histórias acerca de Jesus, com quase nenhum historiador defendendo que Ele não existiu e a grande maioria atestando para a veracidade de partes significativas das narrações dos Evangelhos.

Apesar desta mudança, muitos historiadores de prestígio como Gerd Lüdemann ainda se posicionam contra uma explicação miraculosa pró-cristã para os eventos históricos descritos nos Evangelhos. Entre as causas que levam historiadores a negarem tal conclusão encontram-se essencialmente pressuposições de natureza filosófica, como uma cosmovisão ateísta, uma negação da ocorrência de milagres ou o problema resultante da presença do naturalismo metodológico nas ciências naturais. Todavia, muitos outros historiadores concluíram que a hipótese "Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos" é a melhor explicação para os eventos. Entre os atuais defensores desta posição encontram-se William Lane Craig, N. T. Wright, Gary Habermas e Mike Licona.

Exposição[]

Várias versões de argumentos para a ressurreição de Jesus já foram apresentadas. Entre elas destacam-se o da confiabilidade geral, novo conceito de ressurreição, Deus Encarnado (defendido por Richard Swinburne, o célebre argumento dos fatos mínimos, cumulativo, por eliminação de alternativas e pelas condições suficientes.

Confiabilidade geral[]

Ver artigo principal: Argumento da confiabilidade geral dos escritos sobre Jesus

O argumento da confiabilidade geral dos escritos sobre Jesus atesta que, dado que os escritos referentes à história de Cristo, especialmente aqueles que compõe o Novo Testamento como os evangelhos e as cartas de Paulo, são geralmente confiáveis e nós não temos nenhuma boa razão para rejeitar as suas afirmações quanto à ressurreição de Jesus, então devemos acreditar que tal evento de fato ocorreu. Um caso específico do argumento da confiabilidade geral de uma fonte de informação, este tem sido o "argumento histórico clássico" em favor da ressurreição antes da chegada da abordagem dos fatos mínimos[3] (vide abaixo). Esquematizado, o caso pela confiabilidade geral seria assim:

  1. Textos antigos (incluindo os quatro evangelhos, cartas de Paulo, etc.) testificam que Jesus ressuscitou dentre os mortos.
  2. Os textos antigos constituem-se em fontes geralmente confiáveis de informação.
  3. Não há nenhuma razão conhecida para se concluir que, neste caso em específico, estes textos antigos estariam equivocados quanto à afirmação de ressurreição.
  4. Logo, Jesus ressuscitou dentre os mortos.

Novo conceito de ressurreição[]

Ver artigo principal: Argumento do novo conceito de ressurreição

Defendido e provavelmente criado pelo historiador do Novo Testamento N. T. Wright e chamado pelo filósofo Antony Flew como "a mais poderosa defesa do Cristianismo que eu já vi", esse argumento cristológico parte do princípio de que o conceito de ressurreição nascido entre os primeiros cristãos é radicalmente diferente das noções de ressurreição existentes no mundo antigo, havendo pelo menos sete diferenças não trivias entre elas. Wright, então, questiona quanto ao que deve ter ocorrido para que os primeiros cristãos viessem a desenvolver esse conceito radicalmente novo de ressurreição e conclui que a única explicação plausível é o conjunto "túmulo vazio" e "aparições post-mortem". Tendo estabelecido esses dois ítens como fatos históricos necessários para explicar a origem do novo conceito, o argumento conclui que a melhor explicação para esses dois fatos é o que o próprio novo conceito de ressurreição afirma: uma ressurreição física por Deus.[4] O trabalho de Wright poderia ser resumido da seguinte maneira:

  1. Sabemos que os cristãos primitivos vieram a crer na ressurreição de Jesus, sendo esta a base do Cristianismo até aos dias de hoje.
  2. A forma de ressurreição que os primeiros cristãos (apóstolos e outras testemunhas oculares) vieram a crer é totalmente diferente da ressurreição acreditada pelos judeus do seu tempo, sendo sequer acreditada por pagãos, por várias maneiras:
    1. detalhes...
  3. Esta forma nova de acreditar na ressurreição e a alegação de que é baseada num evento histórico ocorrido com o próprio Jesus precisa de uma explicação histórica, i.e. necessariamente há uma explicação, verificável por padrões de análise histórica, que explique porquê os discípulos passaram a crer em tal tipo totalmente novo de ressurreição e porquê eles alegavam terem visto isso em Jesus.
  4. A natureza da doutrina da ressurreição evoca que pelo menos duas coisas são necessárias para que ela tenha surgido:
    1. Um túmulo vazio;
    2. Aparições post mortem.
  5. Não pode ter havido apenas um deles.
    1. Se houvesse apenas um túmulo vazio mas nenhuma aparição, facilmente os apóstolos teriam concluído que o túmulo fora roubado - algo muito comum na época -, jamais apelando para uma hipótese tão improvável e contrária às suas crenças judaicas quanto a ressurreição (alguns indivíduos, como Maria Madalena, até chegaram a crer nessa hipótese antes de verem Jesus).
    2. Se houvesse apenas aparições, então o conhecimento já presente naquela época de visões, sonhos, alucinações e assemelhados, aliado ao conhecimento facilmente acessível de que o corpo estava no túmulo, facilmente teria advertindo-os de que se tratava desse tipo de experiência e, dessa forma, eles jamais teriam vindo a crer numa ressurreição corpórea como eles creram.
  6. ( O fato de que tais cristãos deram suas vidas após o início do Cristianismo evoca a sua confiabilidade de que ambos estes pre-requerimentos para a ressurreição pregada por eles estavam presentes.)
  7. A melhor explicação para estes dois eventos - não esquecendo-se de todo o contexto - é a ressurreição de Jesus como pregado pelos apóstolos.
  8. Logo, Jesus ressuscitou.

Deus Encarnado[]

Ver artigo principal: Argumento do Deus Encarnado

Essa versão é a defesa da ressurreição apresentada pelo Richard Swinburne.[5] Caracterizada pela ênfase na probabilidade anterior da hipótese em questão (todas as demais abordagens ou a ignoram, ou simplesmente assumem algo como 50%), Swinburne atesta que mesmo que atribuamos valores modestos às variáveis envolvidas, podemos afirmar que a probabilidade da ressurreição ter ocorrido é tão alta como 97%.[6]

Fatos mínimos[]

Ver artigo principal: Argumento dos fatos mínimos

Chamado por Michael Martin como o melhor argumento para a ressurreição já concebido[7], o argumento dos fatos mínimos é provavelmente o mais conhecido dentre os demais graças à sua popularização pelos trabalhos de William Lane Craig, Mike Licona e Gary Habermas. A proposta deste argumento é defender a ressurreição como a melhor hipótese para explicar um grupo de "fatos históricos mínimos" relevantes que são "fortemente evidenciados... [e] aceitos por virtualmente todos os hitoriadores no assunto, mesmo os céticos".[8] De acordo com Habermas, os 12 principais fatos mínimos utilizados na construção deste argumento são:[9][10]

  1. Jesus morreu por crucificação.
  2. Ele foi sepultado.
  3. Sua morte causou seus discípulos a se desesperarem e perderem esperança.
  4. O túmulo foi achado vazio.
  5. Os discípulos tiveram experiências que eles acreditaram eram aparições literais do Jesus ressurreto
  6. Os discípulos foram transformados de céticos a fervorosos proclamadores.
  7. A ressurreição era a mensagem central.
  8. Eles pregaram a mensagem da ressurreição de Jesus em Jerusalém.
  9. A Igreja nasceu e cresceu.
  10. Judeus ortodoxos que acreditam em Cristo fizeram do domingo o seu dia primário de adoração.
  11. Tiago, um cético da família de Jesus, foi convertido à fé quando ele o viu ressuscitado
  12. Paulo, um cético judeu, foi convertido à fé

De todos, o evento do túmulo ter sido achado vazio é provavelmente o mais contestado.[9] Como um argumento para a existência de Deus, William L. Craig organiza-o da seguinte maneira:[1]

  1. Há X fatos mínimos estabelecidos sobre Jesus:
  2. A hipótese "Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos" é a melhor explicação para estes fatos.
  3. A hipótese "Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos" implica que Deus existe.
  4. Logo, Deus existe.

Caso cumulativo[]

Ver artigo principal: Argumento cumulativo para a ressurreição

Uma maneira de propôr a veracidade da hipótese em questão seria fazendo um caso cumulativo ao estilo daquele que Swinburne fez para defender a existência de Deus no seu livro The Existence of God: tomando-se o cálculo bayesiano de probabilidade, defenderia-se que a probabilidade da hipótese é maior do que 50% e/ou maior do que a sua negação dada uma série de argumentos indutivos apresentados em sequência. Essa estratégia foi adotada, por exemplo, por Tim e Lydia McGrew em seu artigo para o The Blackwell Companion to Natural Theology.[11]

Eliminação de alternativas[]

Ver artigo principal: Argumento da eliminação de alternativas para a ressurreição

Diferente de boa parte dos demais argumentos, o de eliminação de alternativas não usa evidências históricas de túmulo vazio ou aparições na defesa de sua conclusão, mas tão somente a existência dos textos do Novo Testamento como são atualmente conhecidos e a existência (não necessariamente a verdade) da religião cristã como se apresenta atualmente.[12] Questionando o que teria realmente acontecido naquele domingo de páscoa, o argumento atesta a historicidade da ressurreição eliminando todas as demais hipóteses concorrentes, à saber:[12]

  1. Alucinação: Jesus morreu, não ressuscitou e os apóstolos estavam enganados
  2. Mito: Jesus morreu, não ressuscitou e os apóstolos criaram um mito
  3. Conspiração: Jesus morreu, não ressuscitou e os apóstolos enganaram o povo
  4. Desmaio: Jesus não morreu

Condições suficientes[]

Ver artigo principal: Argumento das condições suficientes para a ressurreição

Este argumento visa demonstrar que temos as condições suficientes para concluir que Deus ressuscitou a Jesus dentre os mortos, elas sendo:

  1. Fonte de de informação das condições necessárias e suficientes para a ocorrência do evento (testemunho de testemunhas oculares passados por tradição oral)
  2. Nenhuma boa razão para questionar a credibilidade das fontes de informação quanto às afirmações específicas sobre o evento em questão

Avaliação[]

Muitas críticas têm sido apresentadas contra os argumentos em favor da ressurreição de Jesus, seja contrariando o caso positivo à ressurreição, seja por meio de contra-argumentos. Embora boa parte das críticas sejam direcionadas a alguma afirmação específica de cada versão do argumento, algumas delas, mais gerais, podem ser distinguidas. Quanto a estas, destacam-se:

Aceitação das fontes de informação[]

Alega-se que os manuscritos usados em favor das evidências da ressurreição, como os evangelhos, não são aceitáveis.[13] O motivo da rejeição varia: em alguns casos, afirma-se que as alegações de milagres os tornam não superiores a lendas quaisquer; outros, como P. Z. Meyers em seu debate com Kirk Durston, rejeitam-nos porque boa parte deles fazem parte de um livro religioso (a Bíblia) no qual não crêem;[fonte?] outros afirmam que são tendenciosos ("propaganda religiosa") e que não se dá para confiar realmente em tal tipo de material;[13] em alguns casos, criticam-nos por terem sido escrito muito tempo dos eventos[fonte?] e, em outros, por não terem sido baseados no relato de testemunhas oculares.[13]

Falta de mais fontes[]

Uma crítica tradicional no sentido de afirmar que as evidências positivas à ressurreição são fracas alega que há falta de

Rejeição ao teísmo[]

Como a hipótese da ressurreição engloba a existência de Deus, rejeita-se-a ou criticando-se a existência de Deus, ou criticando a possibilidade de atestar tal hipótese por vias puramente historico-científicas.

Rejeição aos milagres[]

Ao longo da história, muitas pessoas se posicionaram contra eventos miraculosos, seja por serem improváveis (e.g.: Michael Martin[13]), de não ser possível atestar a sua ocorrência (e.g. David Hume) ou mesmo de serem impossíveis (e.g. alguns deístas do Iluminismo). Ecoando tais opiniões, alguns críticos rejeitam a ressurreição na medida em que esta seria um evento miraculoso.

Referências

  1. 1.0 1.1 Vide: Debate entre William Lane Craig (afirmativa) e Victor Stenger (negativa): "Is There a God?". Disponível aqui.
  2. 112. Proofs of the Resurrection? (em inglês). Estrelando Bob Conwell. Publicado no YouTube por oneminuteapologist em 27/06/2011. Visualizado em 1 de julho de 2011. Duração: 3:31.
  3. Palestra "The Resurrection Argument That Changed a Generation of Scholars" por Gary Habermas. University of California, Santa Barbara
  4. Historical Resurrection of Christ? NT Wright responds (HD) (em inglês). Estrelando N. T. Wright. Publicado no YouTube por 100huntley em 05/01/2009. Visualizado em 22 de março de 2011. Duração: 2:23.
  5. Swinburne, Richard. The Probability of the Resurrection of Jesus - Notes to accompany lecture (em inglês). case.
  6. Swinburne, Richard. A Probabilidade da Ressurreição de Jesus (em português).
  7. Why Muslim Dr. Nabeel Qureshi Converted to Christianity (em inglês). Estrelando Nabeel Qureshi. Publicado no YouTube por OneBibleOneGod em 1 de maio de 2014. Visualizado em 24 de fevereiro de 2015. Duração: 37:40.
  8. Minimal Facts Method (em inglês). Christian Apologetics Alliance (13 de novembro de 2013).
  9. 9.0 9.1 12 Historical Facts (Most Critical Scholars Believe These 12 items) (em inglês). Biblocality.
  10. 12 historical facts about Jesus (em inglês). Estrelando Gary Habermas. Publicado no YouTube por johnankerberg em 16 de fevereiro de 2010. Visualizado em 10 de dezembro de 2010.
  11. McGrew, Lydia. The Argument from Miracles: A Cumulative Case for the Resurrection of Jesus of Nazareth (em inglês). The Blackwell Companion to Natural Theology.
  12. 12.0 12.1 Kreeft, Peter. Evidence for the Resurrection of Christ (em inglês). PeterKreeft.com. Página visitada em 23 de fevereiro de 2015.
  13. 13.0 13.1 13.2 13.3 Lowder, J. J.. The Contemporary Debate on the Resurrection (em inglês). The Secular Web.


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